Democratizando a leitura

Andando de bicicleta pela orla de Copacabana, esbarrei com algumas prateleiras cheinhas de livros banhadas pela luz da bela tarde de domingo. Parei na hora: “-Oba, um sebo!”. Não era uma feira promovida por livrarias ou shoppings, nem o lançamento de algum best seller. Eram os militantes do projeto Livro de Rua, distribuindo livros para os passantes, isso mesmo... Oferecendo romances, contos, ensaios, poesia... Sem nada pedir em troca. Fiquei deslumbrada, lamentei não ter saído com minha câmera para registrar o “inusitado” evento!





O projeto Livro de Rua é baseado em um movimento internacional chamado Bookcrossing, criado em 2001. A idéia é libertar livros que estão se empoeirando em nossas estantes. Não há dúvidas quanto ao espírito solidário de democratização da leitura e formação de novos leitores. O presidente do Instituto Ciclo do Brasil, fundado por jovens ligados ao movimento estudantil, Pedro Gerolimich concorda e vai além... Quando começaram a implementar suas ações, perceberam que havia uma tendência muito forte à elitização... Aqui no Rio de Janeiro o movimento Bookcrossing, ficava praticamente restrito às áreas mais nobres da cidade. Segundo Pedro Gerolimich, a ideia era super bacana, mas poderia ser feito um pouco mais: a meta era levá-la para as regiões que realmente precisavam de acesso à leitura.





Com esse objetivo, criaram o Livro de Rua, utilizando a filosofia do Bookcrossing, porém agregaram um diferencial. Buscaram parcerias com essa mesma “área mais nobre” da cidade, recebendo um grande volume de doação de livros, que, em seguida, disponibilizaram para os leitores mais carentes.

Desde seu lançamento, em 2008, no Município de Duque de Caxias, seus idealizadores sentiram a necessidade de estabelecer pontos permanentes, chamados de Bibliotecas da Liberdade mas, em nada semelhantes aos espaços de leitura convencionais. Baseados em pesquisas e dados estatísticos chegaram à preocupante conclusão que no Brasil, somente 30% da população freqüenta bibliotecas, com mínima regularidade. Levantou-se, portanto a questão: Para que construir mais bibliotecas, se as pessoas não irão freqüentá-las? Em mais um gesto inovador montaram bibliotecas em pizzarias, lan-houses, hospitais, enfim, estabeleceram até o momento, oito Bibliotecas da Liberdade: seis no Rio de Janeiro e duas em Belo Horizonte. Estrategicamente localizadas, buscando alcançar a população em seus lugares de trabalho e lazer. O que, também mudou radicalmente foi a rotina de empréstimos, com datas pré determinadas e multas diárias por atraso na devolução dos livros. Tudo isso é coisa do passado para eles. Não há controle para retirada de livros nem limite de quantidade, fichas de usuários, recadastramentos periódicos, renovação de carteirinhas... É, revolucionário, no sentido de que toda a estrutura administrativa de uma biblioteca tradicional, simplesmente, pulverizou-se... É pegar e levar! A única regra fundamental é que, após a leitura, o livro não se torne cativo de uma estante. E não para por aí! Idealizaram, também, projetos itinerantes, vitais para a democratização da leitura. O último aconteceu no dia 30 de junho, na Central do Brasil, onde foram distribuídos mais de mil livros para as pessoas que retornavam à suas casas. A leitura para todos é o principal objetivo!





O desafio é estimular a mudança de hábitos nos leitores de não acumular livros nas estantes e cabeceiras, porque acreditam que o livro é um patrimônio da humanidade!





Você pode fazer parte desse projeto. Basta dar uma olhadinha mais humana para suas prateleiras e perceber que é importante compartilhar com outras pessoas, tantas histórias que se calam por baixo da poeira do esquecimento.



Site: www.livroderua.com.br

Blog: http://livroderua.wordpress.com/

e-mail: ciclosdobrasil@ciclosdobrasil.org.br

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