Contistas nacionais - Jadson Neves


Mas, quando é mesmo que começamos a existir como escritores? Acredito que desde que tivermos em nossa memória afetiva alguma história para contar... O resto é com nossas ansiedades e necessidades de materializar no papel e ainda mais, de democratizar os nossos pensamentos. Não é à toa que os blog literários, pessoais e informativos já são um fenômeno de comunicação e transmissão de saber.
E foi por meio dessas mesmas ferramentas sociais que conheci o escritor Jádson Barros Neves, um premiadíssimo autor,  ganhou o segundo prêmio "Concurso Internacional de Contos Guimarães Rosa", promovido pela Radio France Internationale/Paris, em 2000 (Prêmio Maison de l’Amérique Latine); é vencedor dos prêmios, Cidade de Fortaleza/2003; Domingos Olímpio/2004; 12º Concurso de Contos da Região Norte/2004 e em 2008 e vencedor do Prêmio Cidade de Belo Horizonte, na categoria livro de contos.
É inacreditável que Jadson Neves ainda não tenha um livro publicado, que nenhuma editora ainda não tenha nos dado o prazer de ler um conjunto de contos assinados pelo autor. 
Enquanto os editores continuam com seus olhos "escancaradamente fechados" para o conto e seus autores, sites e blogs antenados na boa literatura abrem cada vez mais, espaços para quem tem curiosidade em conhecer o conto contemporaneo brasileiro. 


Leia narrativas curtas que Jason Neves tem publicado em espaços literários da Web e aproveite para conhecê-lo um pouco mais em nosso bate-papo virtual.







1. Gostaria de começar perguntando, o que lhe faz escrever? Quais são os estímulos que encontra para escrever? 



J.N: Existe aquela história, a metáfora do duende azul, que vem da minha infância, que puxa meu pé quando estou dormindo, não necessariamente, só quando estou dormindo, mas a sensação é a mesma e vem de muitos anos que se perderam em minha vida. Então é assim: como se algo, suponhamos o duende azul, puxasse pelo meu pé e sussurrasse que tenho de escrever uma história e não tenho sossego enquanto não me ponho a escrever tal narrativa. Aí escrevo, normalmente já tenho tudo imaginado, mas não é um ato de sentar e escrever, eu ando com a história e, para espanto das pessoas, até falo sozinho. E o que era carente, em mim, se preenche novamente, até que outro estado carencial se crie e a vida se torne um inferno, quando outra história aparece e a vida tenha significado outra vez, quando passo a conviver com o conto e as lacunas vão sendo preenchidas e não penso em outra coisa, seja acordado ou em sonhos. Escrevo, desta forma, para mim, às vezes para preenchimento, por catarse ou exorcismo. 



2. Você somente escreve narrativas curtas ou tem algum projeto de romance em andamento?



J.N.: Acredito que quem escreve sempre, anda escrevendo alguma coisa. Já comecei três romances diferentes, mas não concluí nenhum deles, por algo simples: falta de fôlego e de experiência. Com o maior, que deve levar alguns anos, cheguei quase à página 103. Dias atrás, uma história começou a se impor, a história de uma jovem de uns quinze anos que tem de cuidar de um tio  doente que aparece repentinamente na vida dela. A verdade é que esse tio não é tio coisa nenhuma... Acho que esse será meu primeiro romance. 



3. Você já enviou originais para alguma editora? Já recebeu resposta? Como você vê o interesse das editoras pelo livro de contos?



J.N.: Antes de ganhar o Prêmio Cidade de Belo Horizonte/2008, eu tinha reunido alguns contos, escrito uma carta genérica a umas sete ou oito editoras, não me lembro mais, e remeti o livro. Umas três responderam, outras nem isso. Depois mandei os originais para o concurso de BH. O livro já ganhou mais contos, uns seis, mais ou menos e continua no limbo. Vejo que no Brasil há muitos  contistas, um número crescente, mas me parece que as editoras não investem muito nesse tipo de livros. 



4. Você vive da escrita? Acha que é possível uma pessoa se manter exclusivamente, da escrita?



Eu passaria fome, com todas as letras, se dependesse da escrita. Tenho um amigo, premiado como autor revelação do Prêmio São Paulo de Literatura, que ao receber o prêmio disse que estava era comprando tempo, ou coisa assim, um dia a mais por semana para se dedicar à escrita. O caso  emblemático dele é o de um professor que sai cedo de casa e só volta à noite, às vezes incluindo os sábados em atividades de magistério. A vida de alguns grandes escritores brasileiros mostra pessoas amparadas em outras atividades. Pensemos em Drummond, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Por outro lado, temos o caso de José Mauro de Vasconcelos, Érico Veríssimo, Jorge Amado e, mais recentemente, Paulo Coelho, homens que conseguiram viver da escrita.  Quanto a se viver exclusivamente da escrita, acho relativo e penso que sim, mas depende de muitos fatores  identificáveis, como uma boa editora, divulgação, boa acolhida crítica da obra e por aí afora. 



5. Você acha que um escritor precisa do objeto "livro" para se sentir assim? Você se sente um escritor?



Se entendi bem a primeira parte da pergunta, seria o mesmo que perguntar a um músico se ele precisa da orquestra para se sentir músico, uma vez desfeita a orquestra, estaria desfeito o músico. Ou não? Livros sempre existiram e sempre vão existir, apesar de dizerem o contrário. Particularmente, prefiro mil vezes o objeto livro, que posso abrir num parque, numa praça, num bar, na minha rede no silêncio de minha casa, à tela triste de um computador. Quanto a me sentir um escritor, ao pé da letra, acho que a resposta é não. Principalmente porque escrevo mais para mim e não compromissado com uma causa ou alguém. É como se o veneno que tem a literatura, uma vez despejado dentro de mim, só tivesse como antídoto em seu equivalente que é a escrita, o que, não necessariamente, significa sentir-se escritor. É, mais, um ato de liberdade.




Comentários

Postagens mais visitadas