"A Nova Estética", de Charles Kiefer

Sempre que releio o livro "Para Ser Escritor" de Charles Kiefer, sinto vontade de compartilhar no meu blog o que acabo de ler. É porque poucos autores procuram analisar e entender o gênero conto. Vou deixar para vocês mais um capítulo deste livro que sempre considero uma ótima forma de estar me remetendo ao conto.



A locomotiva e a imprensa criaram o conto moderno.
Edgar Allan Poe, numa resenha sobre Twice told tales, de Nathaniel Hawthorne, faz a apologia da rapidez e da concisão, um século antes de Ítalo Calvino estabelecê-las como paradigmas estéticos para o século XXI.
Poe condena o estilo lento, rebuscado, verboso, comparando-o às velhas diligências do Oeste. O futuro anuncia o escritor de Boston, será das locomotivas e dos textos rápidos. A dissertação vaticina o pai do Corvo, cederá lugar à informação. Até mesmo o conto, que ele também cultiva, há de ser lido de uma assentada. De uma assentada de trem que fizesse um percurso de, no máximo, duas horas. Ou uma só, de preferência.
Hoje muitos bons contos podem ser lidos em menos tempo, muito menos tempo. Contos que requeiram duas horas de leitura já são, para nós, tediosas novelas.
O mundo se acelera, e a literatura - um espelho em que ele se mira - apressa-se também.
Importante é não confundir pressa com rapidez.
Pressa é relaxamento.
Rapidez pode ser virtude.
Não escrevo este rápido e conciso texto com pressa. Mas ele poderá ser lido rapidamente.
Ele deve ser lido rapidamente, que os bytes e os neurônios têm pressa, muita pressa.
Porque a nossa atual locomotiva chama-se internet. E ela é rápida, muito rápida.
Além de gerar palavras novas - os dinossauros as chamavam neologismos -, essa nova machina exige textos curtos, parágrafos curtos, frases curtas.
Hoje, com um olhar retrospectivo, podemos ver a revolução industrial parindo novas formas artísticas, a short storie, a crônica, o folhetim, o romance policial, o romance psicológico, o romance de aventuras.
Com um olhar prospectivo, podemos ver um novo gênero, ainda sem nome, retorcendo-se na tela do computador.
Texto do livro "Para Ser Escritor", Charles Kiefer. Editora Leya. 2010. Pags. 10  e 11.

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