Com a palavra, o contista Henrique Biscardi

Hoje darei inicio à coluna "Com a palavra, o Contista", que tem como propósito apresentar os autores contemporâneos que vêm se dedicando a este gênero. 
Com apenas três perguntas, poderemos nos conectar com o que pensa o contista atual, suas influências e ainda receber indicações de bons livros.
Nosso primeiro convidado, Henrique Biscardi é jornalista, médico e agricultor. E como ele mesmo diz: "usa as palavras para falar das coisas, a medicina para cuidar da vida e a agricultura para cultivar a alma!"



CC - Qual a sua definição particular do gênero conto? 
HB - Há muitas controvérsias sobre o que caracteriza um conto e o que o distingue, por exemplo, da crônica. Na descrição mais usual, diz-se que um conto se caracteriza por ser uma narativa curta, intensa, concisa e precisa que narra um fato em sua totalidade, com começo, meio e fim.  Eu tenho a minha definição. Para mim, a principal característica de um conto é a centralidade da carga dramática no personagem, diferente da crônica, por exemplo, que reflete mais sobre acontecimentos. Certamente, o conto é uma narrativa curta, mas não seria isso que o distingue dos demais gêneros literários. Na minha concepção, a principal característica de um conto é o foco no personagem. Se o personagem é bom, se ele é bem construído, a história tem fluidez.
Essa fluidez de que falo apresenta-se como a segunda das principais características de um conto. Um conto tem que fluir, tem que ser de fácil leitura, tem que ter ritmo. 
Por fim, só para resumir, o conto precisa excitar o leitor, instigá-lo a pensar e se colocar no lugar do personagem. É preciso convidá-lo a entrar no conto, a sentir-se o próprio personagem. Precisa ter uma narrativa envolvente. 

CC -  Qual o contista que mais te influenciou? 

HB - Sofri várias influências. Comecei a gostar de contos lendo Paulo Mendes Campos e Rubens Fonseca. Depois, li alguma coisa de Machado de Assis. Conforme fui amadurecendo minha leitura, passei aos clássicos, como Poe, por exemplo. 
Mais eu tenho três autores de cabiceira, na ordem: Clarice Lispector, Luis Fernando Veríssimo e Mia Couto. Em meus contos, procuro aliar a densidade dramática de Mia Couto, com o suspense de Clarice e o Humor sarcástico do Veríssimo. Alguns saem com um pouco mais de um ou de outro, mas eles me inspiram. 
Além do conto publicado na Rapadura que você deve ter lido, eu sugiro a leitura de dois contos meus que gosto muito e que são os dois que eu acho que melhor me definem como contista. 




CC - Indique um livro de contos para nossos leitores.

HB - Eu recomendo, alguns, como: 

Sexo na cabeça - Luis Fernando Veríssimo
Cada homem é uma raça - Mia Couto 
Onde estivestes de noite - Clarice Lispector

Por fim, às vezes, tenho uma predileção por estorias do interior, e aí, eu gosto muito da literatura regionalista de Esdras do Nascimento.  

Comentários

  1. Parabéns Henrique. Gosto muito de seus contos e acompanho o blog. Continue a nos presentear com belas histórias.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas