Projeto #in #timida #des O dia em que desmaiei...

Pintura de Gustav Klint

Era para ser mais um dia como outro qualquer – aliás, todos os dias têm um potencial enorme para ser como “outros quaisquer” Até que ele (o dia) comportava-se assim, exceto pelo ligeiro tremor nas mãos. Veio totalmente tímido, acompanhado de uma moleza distraída... 

A hora não poderia ser pior: quinze para as onze da manhã e eu acabava de tomar um cafezinho sagrado antes de entrar para minha sessão de análise. Nesse horário ainda não estava perto do almoço, muito menos do café da manhã. Somando a isso o fato de estar naturalmente, ansiosa por ter que deitar no divã e produzir palavras – pelo menos para começar era sempre assim – tinha ali a misturinha perfeita para se auto fabricar uma queda de pressão! 

Somente quando levei a xícara à boca para o último gole, percebi que nem ao menos conseguiria finalizar essa tarefa. Minhas mãos tremiam horrivelmente e senti um começo de calor intenso subindo pela face. Sei que quando fico assim, meu rosto já está todo vermelho e para piorar um tiquinho mais, bastaria que uma pessoa percebesse meu mal estar. É incrível, mas se ninguém nota, consigo dominar a situação numa boa!

Agora, adivinha o que a moça do caixa me perguntou? Isso! Se eu estava passando mal! Só um pouquinho de calor, respondi. Nesse frio? Aquelas malditas palavrinhas funcionaram como uma senha interna para que meu corpo começasse a desabar. 

Primeiro a falta de ar, depois o barulho de apito de trem dentro da cabeça. Sentei assustada, controlando a respiração. Tentava evitar a todo custo o meu iminente desmaio. Só pensava no resultado daquela entrega total. O abandonar-se em mãos alheias, deixar tudo à mercê da curiosidade e ação de estranhos. De repente me vi preocupada com a bolsa, documentos, celular... Depois, quem sabe, a chegada de uma ambulância estridente, isso sem falar na multidão de curiosos que se formam a cada vez que alguém passa mal!

Fiquei ali, alguns segundos, entre o apagar e o lutar. Uma gota de suor corria pela testa e o barulho de apito de trem aumentava. Os lábios das pessoas movimentavam-se e o som não chegava até mim, e seus rostos se aproximaram mais e mais... Naquele vácuo de tempo era somente um escuro inacessível, um corpo mole desgovernado. Uma morada completamente desabitada de mim. 

Não preciso ficar com as lembranças do que aconteceu depois, o acordar, a confusão. Prefiro ficar com a lembrança da ausência, tão forte e latente como um músculo involuntário.

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