Movimento preciso
Seria preciso pelo menos, mais alguns dias para o
mundo deixar de rodar em eixos aleatórios e para que, enfim, pudesse
compreender o mínimo que fosse do que se passava à sua volta.
A vida era algo fugidio e quase indecifrável.
E nem
mesmo a curiosidade despertava algum sentimento positivo para se apegar.
Somente uma ou duas vezes ao longo do ano, conseguia
ver-se feliz.
O resto era um emaranhado de paisagens desconexas que não
despertavam desejos nem desprezos suficientes para que se pudesse manter algum
sentimento.
Esperava por aqueles dias em que conseguia
chegar bem próximo da essência do que deveria ser uma constante, mas não era.
Talvez por isso fosse um motivo de espera e ansiedades.
Na verdade não sabia se as outras pessoas o conseguiam,
não se relacionava muito, vivia praticamente isolada numa vida confortável e
sem muitos distúrbios.
Não raro desejava algum problema, algo que trouxesse um
pouco de dor, umas lágrimas exageradas, um rosto deformado... algo humano o
suficiente.
O cerne à mostra como um nervo exposto, uma
interferência da vida tão forte quanto real.
Ela está ali, parada esperando um só piscar de olhos
para deslocar-se rápida e precisa, pois não precisa ser alcançada com a razão.
As mãos afastam o distúrbio e por um milésimo de
segundos tudo é paz.
Sorri, mas o espelho embaça novamente e tudo volta
à rotina velada.
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